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"A PALAVRA DE DEUS É O TESOURO DO NOSSO CORAÇÃO, A RAZÃO DA NOSSA VIDA!" (Pe. Caetano)

A SABEDORIA E O ENSINAMENTO ÉTICO EM ISRAEL

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RESUMO


A literatura sapiencial é uma coleção de escritos que apresenta orientações práticas sobre diversos temas, ensina como se portar em situações variadas, comporta normas de convivência familiar, social etc. Os evangelhos alertam sobre o uso e o lugar que o dinheiro deve ter na vida do ser humano. Provocam, por exemplo, a reflexão sobre a quem se deve servir: a Deus ou ao dinheiro? (Mt 6,24). Para responder a essa questão, buscar-se-á, na literatura sapiencial, os antecedentes da perspectiva evangélica. Desse modo, a proposta deste trabalho é revisitar alguns textos presentes nos livros sapienciais de Provérbios, Qohelet e Sirácida em uma busca por orientações práticas sobre a utilização dos bens e a valorização das pessoas em relação à sua posse. Geralmente, se analisa a situação social dos membros do povo de Israel no Antigo Testamento e a atuação dos profetas como a consciência crítica da sociedade israelita. Pretende-se, portanto, ouvir os sábios de Israel e demonstrar que seu ensinamento sobre a situação do pobre e do rico, sobre as desigualdades sociais e sobre o uso correto dos bens chegou ao movimento de Jesus e pode colaborar com a formação dos homens e mulheres dos tempos atuais.

 

PALAVRAS-CHAVE: Sábio. Sabedoria. Bens. Pobres. Ricos.

 

Introdução


O termo “sabedoria” é a tradução do hebraico Hokmah e tem vários significados: destreza, habilidade, perícia, sagacidade, talento, sensatez, prudência, juízo, razão. A palavra “sábio”, por sua vez, traduz o termo hebraico hakam, remetendo a alguém capaz de discernir a ordem que rege o mundo natural e as relações sociais, na busca pela verdadeira felicidade, o viver bem.

A sabedoria era transmitida no âmbito familiar, dos pais aos filhos, desde os tempos mais antigos (Pr 4,1-5). Com a instauração da monarquia, a sabedoria migrou do clã e adentrou a corte. Surgiu então a função do escriba, que tinha como principal atividade documentar acontecimentos do reino, cuidar da contabilidade, preparar os futuros escribas e educar os jovens aristocratas que trabalharão nos serviços burocráticos da realeza (CERESKO, 2004, p. 25). Nesse período da monarquia, serão compiladas as tradições relativas à sabedoria, processo que teve início com o reinado de Davi, consolidando-se com Salomão e que atingiu seu cume no período pós-exílico,

A forma literária característica dos escritos sapienciais é o gênero provérbios, tradução do termo hebraico mashal, que comporta uma variedade de significados, como: comparação, ditos, palavra poderosa, enigma, fábula etc. Todos eles buscam uma compreensão da situação apresentada por meio da comparação ou analogia (CERESKO, 2004, p. 41). São ensinamentos profundos transmitidos de maneira sintética e instigante.

A sabedoria, até então circunscrita à tradição oral, passa a compor obras escritas que servirão de guia para a formação dos futuros escribas e dos jovens aristocratas. Tais obras reúnem as tradições recolhidas em Israel, como também tradições sapienciais das nações vizinhas de Israel. No livro dos Provérbios, temos a contribuição direta, através de ditos, dos sábios estrangeiros. Podemos afirmar que Israel bebeu da fonte comum da sabedoria do mundo oriental.

A reflexão sobre a sabedoria foi relida dentro da fé de Israel, não se limitando a uma observação das leis e à busca pelo princípio ordenador do cosmo. Os seus representantes aplicaram-lhe um princípio de fé, o temor do Senhor. O verdadeiro sábio é aquele que busca a Deus através da observância da Torá[1]. O sábio é aquele que procura discernir e se ajustar à vontade de Deus presente nos ensinamentos de sua Palavra. Segundo Ceresko, o escriba-sábio reivindicava uma autoridade igual à do sacerdote e do profeta na revelação da vontade e da palavra divina (CERESKO, 2004, p. 28.).

O escriba-sábio era um funcionário da corte, exercia suas funções de forma a agradar seus chefes, os poderosos da realeza. Apesar disso, estava inserido em uma tradição de fé marcada pela ação libertadora de Javé, numa preocupação constante pela justiça e dignidade do seu povo. Por isso, vemos emergir, nos escritos sapienciais, temas ligados à justiça social, relações trabalhistas justas, preocupação com os pobres e com a aquisição, o uso e o acúmulo dos bens.

 

1. Literatura Sapiencial


Os livros sapienciais apresentam reflexões sobre temas diversos e relevantes para o povo em seu cotidiano, pois disso se ocupava a sabedoria em Israel. A sabedoria era um tema corrente na literatura do Mundo Antigo. No Oriente, desde o Egito até a Mesopotâmia, encontramos reflexões acerca desse assunto. O verdadeiro sábio é aquele que conhece a arte do bem viver e a repassa para os seus contemporâneos. Essa arte advém da observação da natureza e da descoberta da ordem natural que rege a criação, perpassada por grandes mistérios. O sábio é alguém que tem conhecimento prático das questões importantes da vida, tem uma longa experiência e tem a preocupação de transmiti-la aos mais jovens.

A sabedoria era um atributo exigido principalmente aos reis, na arte de governar. Por isso, temos na história de Israel a figura de Salomão, conhecido como o rei sábio por excelência. Além de serem sábios, os reis deveriam cercar-se de conselheiros sábios que os ajudassem a governar com justiça, retidão e, acima de tudo, sabedoria.

Para Asensio, é possível falar de escolas em Israel pelo menos a partir do séc.II, pois no Sirácida temos uma menção explícita em 51,23: “Aproximais-vos de mim ignorantes, entrai para a escola” (1994, p. 60). Vejamos agora como essa sabedoria vai atuar na construção de uma formação ética da população de Israel por meio dos ensinamentos dos sábios recolhidos pela Literatura sapiencial.

 

2. A literatura sapiencial e a questão dos bens em Israel


A Literatura sapiencial compreende os livros chamados sapienciais: Jó, Provérbios, Qohelet, Sirácida e Sabedoria, e os livros poéticos: Salmos, Cântico dos Cânticos. Em nosso trabalho, priorizamos Provérbios, Eclesiastes e Sirácida, por encontrarmos neles certa sistematização ética. Acompanhemos, portanto, como o conhecimento da sabedoria foi transmitido através dos Livros Sapienciais, Provérbios, Qohelet ou Eclesiastes e Sirácida ou Eclesiástico, sobretudo, a forma como eles tratam os temas relacionados ao dinheiro.

Partimos do pressuposto de que nesses livros os escribas-sábios estavam transmitindo a tradição sapiencial de Israel e das nações vizinhas. Através deles, ensinavam aos jovens aristocratas a maneira correta de se portar em diversas situações, das mais simples às mais complexas. Um dado importante é que essa formação em preparação para os cargos futuros não estava restrita a temas administrativos, jurídicos e militares, mas comportava uma profunda solidificação das tradições religiosas de Israel.

Antes de exercer qualquer função, um membro do povo de Deus, não podia nunca esquecer que pertencia ao povo escolhido, com o qual Deus fez Aliança. Portanto, todo comportamento está subordinado aos mandamentos de Deus, suas orientações práticas contidas nos códigos legislativos: Decálogo (Ex 20,1-21; Dt 5,1-22), Código da Aliança (Ex 19,22–23,19), Código Deuteronômico (Dt 12–26) e Código de Santidade (Lv 17–26). Tais normas e prescrições regem todas as áreas da vida de um israelita: relações familiares, matrimoniais, comerciais, escravos, dívidas, sacrifícios, divórcio, propriedades, herança etc.

 

2.1. Provérbios


À primeira vista, parece que nos encontramos em meio ao caos, com a repetição de temas nas várias coleções de provérbios reunidas na obra. Em meio a tanta desordem, o compilador dos Provérbios tenta organizar essa confusão, ordenando a vida com orientações práticas.

Através dos ditos e instruções, os jovens discípulos aprendem por meio de uma pedagogia libertadora a discernir as fontes do sofrimento e da infelicidade humana (CERESKO, 2004, p. 58). O melhor caminho para alcançar a felicidade é a sabedoria, ela é melhor que ouro e prata e adquiri-la deve ser o objetivo de vida dos jovens (16,16; 3,13s; 8,1-21). A sabedoria é o bem mais precioso e necessário que o jovem deve almejar. Ele não deve se preocupar em acumular riquezas desonestas (13,11; 15,16s; 21,6s). E a melhor maneira de fortalecer o caráter dos discípulos é reafirmar os valores dos laços familiares, o respeito aos pais e suas tradições (19,26).

O livro nos oferece um trecho que define bem o comportamento a ser adotado em toda e qualquer circunstância: o pedido a Deus pelo equilíbrio:

 

Duas coisas eu te pedi; não mas negues antes de eu morrer: afasta de mim a mentira; não me dês nem riqueza e nem pobreza, concede-me o meu pedaço de pão; não seja eu saciado, e te renegue, dizendo: “Quem é Iahweh?” Não seja eu necessitado e roube e blasfeme o nome de meu Deus (30,7-9).

 

Esse programa de vida fundamenta-se em ter somente o essencial, nem mais nem menos. Adotar essa postura em relação aos bens traz consequências diretas em todos os aspectos da existência do discípulo, tem incidências em todas as suas relações. Ele não se define pela quantidade de bens que possui, não está subjugado pelo ter. Nas relações interpessoais, não há, nem deve haver, uma objetivação do ser humano para alcançar poder, status, dinheiro etc.

Não há uma preocupação com o acúmulo, pois, deve-se ter o necessário para a sobrevivência, quanto à utilização dos bens, eles estão a serviço do bem individual e coletivo (11,24.28; 21,6s). Pode-se, então, olhar o outro, especialmente o pobre, com compaixão, atenção às suas necessidades, percebendo seus sofrimentos e tentando minorá-los (14,21.31).

 

2.2. Qohelet


Esse não é um nome e sim um título, quer dizer aquele que reúne, tanto pessoas a seu redor como ditos, obras. É um livro bastante intrigante, que já foi acusado de ser um tratado pessimista e, anacronicamente, até chamado de niilista. O autor parece derrubar todas as bases de sustentação da vida do povo, um chamado à reflexão das coisas que são verdadeiramente importantes na existência humana. Essa obra é provavelmente do período pós-exílico, durante a dominação lágida[2] sobre o povo de Deus. Para Ceresko, o autor responde às crises econômica, religiosa e política, como pastor compassivo orientando os seus compatriotas a um rigoroso ascetismo (2004, p. 102). Por outro lado, ataca os fundamentos da chamada “sabedoria” dos opressores.

Como Provérbios, Qohelet também ensina o desapego aos bens terrestres. Para ele, tudo é vaidade, a palavra hebraica hebel, aqui traduzida por “vaidade” significa sopro, fumaça. Na poesia hebraica, ela está associada à fragilidade humana, ao transitório, passageiro. Tudo aquilo em que o ser humano se firma esvai-se no ar, ao sabor do vento. Ele submete os alicerces da felicidade humana ao crivo da transitoriedade, põe tudo abaixo, destrói todas as certezas. Tudo é vão, é vazio e sem sentido. O trabalho, obra das mãos humanas também se mostra inconsistente, não conduz o indivíduo a felicidade. As riquezas advindas desse trabalho também não proporcionam realização plena. A própria sabedoria é colocada à prova. Em que consiste a felicidade, comer e beber? O que nos restará ainda nessa aventura inglória que é a vida humana?

Qohelet nos oferece algumas pistas. O sábio caminha de olhos abertos, caminha na luz, não anda nas trevas (2,13s). Tem a capacidade de trilhar os caminhos da justiça, da retidão, reconhecendo a centralidade da opção por Deus e suas consequências (12,13). A verdadeira felicidade consiste em reconhecer a bondade de Deus, recebendo dele o necessário para viver com tranquilidade e harmonia através da sabedoria, do conhecimento e da alegria (2,26; 9,7ss).

O autor observa a opressão, praticada pelos ricos, aos pobres, a quem não há quem console. Ele valoriza a solidariedade, o companheirismo para ajudar a suportar as agruras do existir (4,9-12). Em vários momentos, Qohelet alerta-nos sobre a incoerência da existência humana e propõe uma sátira ao dinheiro que não garante nenhuma segurança em nossa trajetória terrena. A vida constitui-se em um grande e insondável mistério, ao qual devemos inclinar-nos em adoração diante do Criador: “Lembra-te do teu criador nos dias da tua mocidade, (...) antes que o pó volte à terra de onde veio e o sopro volte a Deus que o concedeu” (12,1.6s).

 

2.3. Sirácida


No Sirácida, nós nos encontramos diante de uma monumental obra da literatura sapiencial, única no Antigo Testamento a trazer a assinatura do seu autor, Jesus Ben Sira (51,30). Foi traduzida para o grego, pelo seu neto, com o intuito de difundir os ensinamentos do avô. O Sirácida viveu durante o período da dominação grega do território de Israel. Os judeus eram pressionados, em princípio de forma sutil e depois de maneira mais veemente, a adotar os costumes da cultura grega. É dentro dessa situação que devemos situar esse livro. O autor está dialogando com a cultura grega, ao mesmo tempo em que mostra aos seus compatriotas o valor de sua própria cultura enraizada na experiência de fé do seu povo.

Estamos mais uma vez diante de um panorama de dominação e opressão por parte de nações estrangeiras, é necessário fortalecer as relações familiares, mostrar aos jovens os verdadeiros valores humanos. É possível que o autor tenha tido acesso ao livro dos Provérbios, ele ampliou e deu aos ditos uma melhor ordenação em vistas a um ensinamento mais aprofundado e didático. O livro inicia propondo o verdadeiro princípio da sabedoria que é o temor do Senhor e principia um itinerário de conselhos práticos para vida cotidiana, são conselhos sobre família, amizade e oração (CERESKO, 2004, p. 135).

Numa cultura que incentivava o acúmulo de riquezas, o autor valoriza a amizade como um tesouro de valor incalculável. Insiste na compaixão aos pobres e na obrigação de ajudá-los (29,22s; 31,4). Para o Sirácida, a honra de um homem, não está em seus bens, o motivo de um homem ser honrado é o temor do Senhor (10,19-24). O rico é louvado por suas atitudes para com os necessitados (31,8-10), é criticado por sua avareza, por possuir bens e não usufruir deles, guardá-los para que outros se regalem é fazer o mal a si mesmo. O autor adverte aos seus discípulos sobre o valor da caridade para com os pobres, orienta-os a não desviar o olhar de suas necessidades, a não negar o cumprimento ao pobre (4,1-10).

Lembrando que o Sirácida está instruindo os jovens da classe abastada, recordando-lhes que cuidar dos desvalidos é ser considerado filho de Deus. Ao insistir sobre a importância da esmola, defende que dá-las é acumular um tesouro junto de Deus (29,8-13). Numa época em que muitos sofriam com a expropriação de seus bens, endividados e sem ter como se desvencilhar, perdem suas terras, tendo que entregar seus filhos e filhas à escravidão. O autor incentiva seus irmãos a socorrer, por meio do empréstimo, a esses desafortunados (29,1-7). Ele também valoriza aqueles que oferecem fiança (29,14-20). Todas essas orientações visam ajudar seus compatriotas a saírem da situação de penúria em que muitos se encontravam. Essas instruções revelam que valores devem ser cultivados pelo povo de Israel: solidariedade, respeito e auxílio aos pobres em suas dificuldades. A riqueza não é um bem em si, antes, deve estar a serviço da restituição da dignidade aos oprimidos e desfavorecidos.

 

Considerações finais


Nosso objetivo ao abordar os ensinamentos éticos presentes na literatura sapiencial, especificamente em Provérbios, Qohelet e Sirácida era perceber que a preocupação com o bem-estar de cada membro do povo de Israel, em todas as dimensões da sua existência, não era uma atribuição exclusiva dos profetas. Todas as correntes religiosas que atuaram na história de Israel tiveram uma preocupação ética. Isso se deve à sua experiência fundante, a libertação da escravidão do Egito e a Aliança firmada entre Deus e o povo no Sinai. O Deus que livrou Israel das mãos dos opressores não permite que seu povo retorne à escravidão.

Ser livre significa ter sua dignidade humana assegurada, não se deixar explorar, nem pelos estrangeiros, nem pelos compatriotas; não se deixar escravizar pelos bens, mas utilizá-los de modo que eles sejam instrumento de libertação para si e para os seus irmãos de fé. Significa ser senhor dos bens e não escravo deles, como orienta Jesus nos Evangelhos. Por isso, todos os dias o Senhor nos pergunta: onde está o teu irmão? Como você tem cuidado dele? Qual o bem mais precioso que possuis? Qual o bem maior da tua vida? Com o quê ou com quem você gasta ou investe seu tempo? O que é mais importante ter um Bem ou acumular bens? Eram essas as perguntas que perpassaram todas as orientações contidas nos escritos que examinamos.

 

Referências

ASENSIO, V. M. Libros sapienciales y otros escritos.  Navarra: Editorial Verbo Divino, 1994.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2000.

CERESKO, A. A sabedoria no Antigo Testamento: espiritualidade libertadora. Tradução Adail Ubirajara Sobral, Maria Stela Gonçalves, São Paulo: Paulinas, 2004 (Coleção Bíblia e Sociologia)

ZIENER, G. A Sabedoria do Oriente Antigo como Ciência da vida. Nova compreensão e crítica de Israel à sabedoria. In.: SCHREINER, J. Palavra e Mensagem do Antigo Testamento. 2ed. São Paulo: Teológica, 2004. p.333-349.

ZENGER, E. O. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003.



[1] Torá é como se nomeia o conjunto de livros que formam o Pentateuco (Gn, Ex, Lv, Nm e Dt) na Bíblia Hebraica, pode também denominar as escrituras consideradas sagradas pelo povo de Israel, o Antigo Testamento para os cristãos.

[2] Dominação grega que governou no Egito e também na Palestina no séc.III, eles infringiam ao povo uma exploração econômica por meio de impostos cobrados anualmente em somas fixas pagas em moeda corrente.


Doutoranda em Ciências das Religiões pela Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP. Mestra em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP (2020).  É especialista em Estudos Bíblicos pela Faculdade Católica de Fortaleza (2015) Graduada em Teologia pelo Instituto de Ciências Religiosas - ICRE (2007). E-mail: lucienelima324@gmail.com


A ELEIÇÃO DE ISRAEL COMO FUNDAMENTO DA ALIANÇA

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Quando se narra a aliança de Deus com o povo imediatamente vem à tona o tema da eleição. São dois temas essenciais e interligados que são fundamentos dentro da construção do Pentateuco. Por isso é necessária uma melhor compreensão. A história de Israel desde a criação apresenta o desejo divino de se relacionar com o ser humano. Desde o primeiro casal, Adão e Eva, Noé, Abraão, até a eleição de um povo, Israel como parceiro de Deus em meio a humanidade. Pretende-se elencar quais foram os critérios para essa eleição e o que ela representa para o povo de Israel. Além de indicar como esse tema se constitui um dos temas chaves no Pentateuco e como pode ser lido de forma fundamentalista nos dias atuais.

PALAVRAS-CHAVE: Eleição. Aliança. Povo de Israel. Pentateuco.

Introdução

O Pentateuco constituído pelos livros: Gênesis, Êxodo, Levítico e Deuteronômio apresenta o surgimento da humanidade, sua eleição divina e a longa jornada que se inicia entre o povo de Israel e Deus. A relação dos dois será marcada pelo tema da eleição e consequentemente da aliança. Para acompanhar esse processo passa-se desde a criação com o primeiro casal, Adão e Eva, Noé, Abraão e o grupo que se convencionou chamar povo de Israel e sua trajetória de libertação da escravidão no Egito. Pretende-se observar os critérios para essa eleição e como ela foi sendo vivida ao longo da história do povo.

A eleição na criação e a promessa de Deus

A criação revela o desejo de Deus de se comunicar com o ser humano, pode-se afirmar que esse primeiro movimento de Deus ao encontro da humanidade é uma eleição. O primeiro casal Adão e Eva, representantes da humanidade são agraciados com o desejo divino de se relacionar com eles, isto se torna claro quando é dito em Gn 3,8 que Deus passeava no jardim todas as tardes, esse era o momento do encontro com o primeiro casal.

Adão e Eva poderiam usufruir livremente de tudo que havia no jardim, mas, havia um limite, uma espécie de cláusula dessa aliança, estava vedado o acesso a árvore do conhecimento do bem e do mal. Quando eles quebram esse contrato, a aliança é rompida e eles são expulsos do jardim.

No episódio do dilúvio quando Deus decide destruir o mundo por causa do pecado da humanidade, encontra um homem justo, Noé e resolve poupá-lo juntamente com sua família e representantes das espécies animais. Em Gn 9,8 Deus estabelece uma aliança com Noé e sua família e também com todos os seres da criação, o sinal da aliança é o arco na nuvem. Essa aliança parece não se restringir somente a família de Noé em Gn 9,17, é dito que essa aliança é eterna, abrange os seres humanos e toda a criação, todos os seres vivos.

Logo depois entrará em cena outro personagem importante, é com Abraão que se tem essa noção de eleição concretizada. Deus chama Abraão e lhe diz que sua vida será modificada. Ele é eleito para dar início a uma longa jornada com Deus para originar um povo. A partir de Abraão nascerá um povo que se tornará conhecido como povo eleito (MCKENZIE, 1983, p. 271).  

A libertação do Egito início de uma caminhada

Na narrativa do livro do Êxodo com a toda a trajetória de sofrimento e exploração sofrida pelos descendentes de Abraão novamente Deus reaparece e relembra sua escolha desse grupo. Com o reconhecimento dessa escolha, Deus decidiu através de Moisés libertar esse povo da escravidão.

É no livro do Êxodo 19 que teremos a celebração dessa aliança no monte Sinai, esse povo eleito trava com Deus uma relação que será diferente a partir de então. O povo, chamado povo de Israel, deverá cumprir as normas e estatutos e viver como povo eleito, segundo o livro do Deuteronômio. O texto bíblico nos apresenta essa escolha de Israel e nos revela os critérios dessa eleição. Só será possível compreender esse tema da eleição se esse olhar se volta-para o momento em que as tradições do povo de Israel se tornaram livro. Sabe-se que a bíblia nasce como livro no exílio, quando as diversas tradições orais começaram a ser compiladas.

A teologia da eleição é recente pode ser datada entre os séc. VIII ou VII a.C. (MACKENZIE, 1983, p. 271). Na crise de fé vivida nesse período é o momento oportuno para aquele grupo repensar sua relação com Deus. Certamente a experiência de libertação do Egito era inspiradora para os exilados que perderam sua terra e estão novamente vivendo em terra estrangeira. No livro do Dt 7,7-11 o autor afirma que a eleição divina é gratuita não é por ser o mais numeroso dos povos que Israel foi escolhido, certamente não foi por ser o mais obediente.

Por que Deus escolheu Israel

A eleição divina não pode ser vista como privilégio, Israel foi escolhido para manifestar perante os outros povos a Deus através de uma conduta de vida diferente das nações que vivem ao seu redor, especialmente os cananeus, eles são o povo consagrado, apartado dos outros povos (LÓPEZ, 1989, p. 24). Sabe-se, no entanto que a compreensão do sentido da eleição vai se modificando ao longo do tempo.

O alcance do sentido de eleição vai sendo construído no exílio e pós-exílio, quando a memória do povo de Israel vai se tornando texto escrito. Para um determinado grupo a eleição é demonstração de uma predileção especial, o povo tem algo que o distingue dos outros povos. Deus veio ao seu encontro, de alguma forma eles são especiais.

Para outro grupo, a eleição é percebida como uma grande responsabilidade, no texto bíblico todo chamado é feito em vista de uma missão a ser cumprida, qual seria a missão de Israel ao ser escolhido por Deus? Essa missão estaria associada a revelação do nome de seu Deus. Na compreensão do povo daquela época, em que cada povo possuía sua própria divindade, como mostrar que o Deus de Israel era diferente, era especial, era mais forte e poderoso. O poder e a força desse Deus foram revelados na libertação do povo do Egito, uma nação forte em seu tempo (LÓPEZ, 1989, p. 25).    

O Deus de Israel era um deus diferente, era itinerante, nômade, essa é a imagem desse deus na caminhada dos seus escolhidos. A grande tentação do povo sempre foi se voltar para outras divindades mais estabelecidas, com rituais a serem cumpridos e sem uma exigência ética.

A eleição acarretava para o povo uma grande responsabilidade, trazia em si uma exigência de fidelidade aos preceitos estabelecidos na aliança celebrada no Sinai. O decálogo, chamado de documento da aliança, apresenta como o povo deve se comportar perante Deus e perante os seus semelhantes. Fica explícito que essa eleição não é um ato realizado de uma única vez, mas, necessita ser vivido cotidianamente pelo povo.

A eleição e os profetas

Tem-se conhecimento da missão profética na Sagrada Escritura. Os profetas sempre foram vistos como a consciência viva do povo, estão sempre atentos ao cumprimento das leis, da fidelidade a aliança feita entre Deus e o povo. Eles são uma espécie de fiscal da Aliança. Para muitos profetas a eleição sempre foi vista como uma responsabilidade da parte do povo e dos seus governantes que na interpretação profética sempre se mostrou infiel, não cumpriu o que era esperado.

A cobrança constante feita pelos profetas revela que eles não viam o povo de Israel como privilegiado nessa escolha divina, pelo contrário, eles exerciam junto as autoridades políticas e religiosas uma fiscalização severa da atitude ética exigida nessa aliança. A crítica feita ao povo era o desvio realizado quando o povo exercia o culto desligado da vida, e também a constante tentação de prestar culto as divindades dos povos vizinhos (MONLOUBOU, 1987, p. 30).

Quando da ameaça de destruição de Jerusalém pela Babilônia, os profetas não pouparam o povo por suas faltas. A eleição não blinda o povo das consequências de seus atos. O fato de ser o povo de Deus não os torna imunes quando cometem erros e devem ser castigados, ou melhor, responsabilizados por suas ações. O descumprimento da aliança se revela como infidelidade a Deus e pode acarretar a perda da eleição, a quebra do contrato (LÓPEZ, 1989, p. 25)

A eleição como tema chave no Pentateuco

A compreensão de Israel como povo se dá a partir da noção de eleição que está associada ao tema da aliança. Já foi visto que não há na Escritura um critério para a eleição. Deus age de forma livre e sua escolha é gratuita, ou seja, Israel não possui nenhum atributo que o torne especial, é dito em Dt 7,7, que eles eram poucos e frágeis perante as nações daquela época.

Toda a trajetória do povo de Israel vai sendo desenrolada no Pentateuco por intermédio dessa noção de eleição e aliança. Desde a saída do Egito, travessia no deserto, e extrapola os limites do Pentateuco com a ocupação da terra, conflitos com as nações vizinhas, período da monarquia, destruição do reino do norte e do sul e finalmente o exílio. Pode-se afirmar que esses temas perpassam todo o Antigo Testamento. Quando se narra a relação de Deus com o povo esses temas vêm à tona.

 A eleição como responsabilidade

Observa-se que na aliança com Noé, há uma salvação que é dirigida a todos, inclusive é dito que a aliança é feita com toda as gerações futuras e com toda a criação, há um recomeço na relação de Deus com toda a obra criada, homens, mulheres, plantas e animais.

O trecho de Gn 12,1ss afirma que Abraão seja uma benção e que nele serão benditas todas as nações. Pode-se perceber nessa afirmação a responsabilidade do patriarca perante as outras nações. Benção na Bíblia significa comunicação de vida por parte de Deus, com ela vem a força, o vigor e o êxito. Por meio do povo de Israel a vida viria para os povos com quem ele se relacionasse. A benção também é vista como recompensa pelo cumprimento da aliança (MACKENZIE, 1983, p. 114-115).

É possível encontrar o tema da eleição no Servo de IHWH de Isaías 42,1.6s; 49,7; que para muitos estudiosos representa todo o Israel. O Servo é eleito para ter o Espírito de Deus, para estabelecer a justiça sobre a terra, ser aliança para os povos e luz para as nações, dar luz aos cegos e liberdade aos cativos (MACKENZIE, 1983, p. 271).

Através de Israel o mundo seria transformado pelo estabelecimento da justiça, a libertação das opressões sofrida pelos pequenos, um novo tempo se apresentaria. A referência para realização dessas ações é o Deus libertador de Israel, assim como fez com Israel por seu intermédio fará a todas as nações.

No exílio e pós-exílio o tema da eleição é repensado porque pela infidelidade de Israel teria ele sido rejeitado por Deus e a aliança teria sido revogada. No pensamento profético está excluída essa possibilidade de rejeição, a eleição divina é irrevogável. Pode-se pensar quem faria parte desses eleitos e que tipos de privilégios seriam concedidos a esses membros (LACOSTE, 2014, p. 605).

Cristianismo: comunidade dos eleitos

Os cristãos são designados na teologia paulina os “eleitos” (Cl 3,12; 2Tm 2,10; Rm 8,33) também nas Cartas Católicas (1Pd 1,1). A eleição do cristão se dá por pura graça divina, em Cristo, Deus Pai os escolhe e aguarda deles que se mantenham firmes na fé até o juízo final. Na teologia joanina, a igreja se apresenta como a eleita (2Jo 1,13). A escolha dos doze representa toda a igreja chamada a assumir o compromisso de instaurar o Reino de Deus, de concretizar o reino de sacerdotes, a nação santa, o povo eleito (Ex 19,6, Is 43,20).

É importante pensar a eleição cristã à luz da eleição de Israel como uma missão, uma grande responsabilidade perante o mundo. No sermão da montanha, Jesus exorta os cristãos a ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-16). A inserção do cristão no mundo se dá de maneira a transformá-lo em um lugar melhor, onde reine a justiça e a vontade de Deus prevaleça. Isso ocorrerá com o engajamento dos cristãos no cuidado pelos mais vulneráveis, excluídos pela sociedade.

Sabe-se, no entanto que alguns cristãos não percebem a eleição como responsabilidade, mas, vivem, sentindo-se agraciados e até mais merecedores das graças e proteção divina por serem parte da Igreja cristã. É preciso resgatar o sentido da eleição do cristão como compromisso e responsabilidade diante de um mundo que oprime os pequenos, frágeis e os exclui da casa comum.

Considerações finais

A vida do povo de Israel sempre foi marcada pela sua relação com Deus, ser o povo eleito, significava viver de maneira diferente em meio as nações estrangeiras. Não foi fácil para Israel permanecer fiel a Aliança firmada com Deus, pois, essa relação era bastante exigente. A infidelidade foi o grande pecado de Israel. Na verdade, observa-se que o povo nunca assumiu totalmente sua vocação e missão, em várias ocasiões se deixou envolver pelas outras nações e se desviou na adoração as outras divindades. Olhando para Israel o cristão, chamado a ser o novo Israel é interpelado a não repetir os mesmos erros de Israel e assumir no mundo atual sua eleição, como sal da terra e luz do mundo se engajando na luta por uma sociedade mais justa e fraterna, onde sejamos todos irmãs e irmãos.

 

Referências bibliográficas

LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário crítico de Teologia. São Paulo: Edições Loyola: Paulinas, 2014.

LÓPEZ, Félix Garcia. El Deuteronomio una lei predicada. Navarra: Editorial verbo divino, 1989.

MCKENZIE, John L. Dicionário bíblico. São Paulo: Paulus, 1983.

MONLOUBOU,Louis. Los profetas del Antigo Testamento.Navarra : Editorial verbo divino, 1987.


Doutoranda em Ciências das Religiões pe la Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP. Mestra em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP (2020).  É especialista em Estudos Bíblicos pela Faculdade Católica de Fortaleza (2015) Graduada em Teologia pelo Instituto de Ciências Religiosas - ICRE (2007). E-mail: lucienelima324@gmail.com

Novo Blog

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O Blog da Comunidade Feminina de Mossoró está com novo endereço. Confira!

http://njmossoro.blogspot.com/

LECTIO DIVINA: UM CAMINHO PARA A CONTEMPLAÇÃO

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A Lectio Divina é um antigo modo cristão de orar, cuja meta última é a contemplação. Nos quinze primeiros séculos do cristianismo a contemplação era aberta a todos os cristãos como desenvolvimento normal de uma vida espiritual autêntica. Esse modo de rezar caiu em desuso no final da Idade Média. A partir de então, passou-se a aceitação geral de que a contemplação é uma graça comum extraordinária, restrita a uns poucos eleitos.

A contemplação não é um “luxo espiritual”, nem tampouco uma “emoção espiritual” a ser buscada para nossa própria satisfação. A oração contemplativa é a conseqüência de estar literalmente “apaixonado” por Deus, no nível mais profundo da relação com ele para a qual fomos criados (cf. Gn 1,27).

Fomos criados para a união com Deus. Essa união se vive já aqui e agora. Como diz Jesus: “O Reino dos Céus está dentro de vocês”... “Arrependam-se e acreditem na boa nova”: vocês são amados de Deus! A mensagem dele é que o amemos amando uns aos outros, e que esse amor é o amor de Deus, vivo e amoroso por meio de nós neste mundo, como sua origem, significado e fim. É esse amor que se torna experiência na oração contemplativa e molda gradualmente nossa vida para que sejamos cada vez mais uma presença do amor de Deus no mundo.

A oração contemplativa é o consentimento a esse amor. Não se trata da promessa de um hipotético bem futuro quando morremos, mas de parte de um processo vital, muitas vezes árduo e doloroso de auto-esvaziamento e reorientação para um amor altruísta, isto é, um ato sério de seguir Jesus. É, portanto, algo fundamentalmente importante nos dias de hoje.

A redescoberta da contemplação

Há uma dinâmica interna na evolução de todo amor verdadeiro que leva a um nível de comunicação “profundo demais para palavras”. Nesse nível, aquele que ama torna-se inarticulado, fica silencioso, e o amado recebe o silêncio como eloqüência.

A Lectio, da forma como me referirei a ela daqui por diante, é uma forma holística de oração que nos dispõe, abre e “molda” para o dom da contemplação que Deus espera oferecer, conduzindo-nos a um lugar de encontro com ele em nosso centro mais profundo, seu local de morada que nos dá a vida. Ela dá início a esse movimento apresentando-nos o poder existente na palavra de Deus na Escritura para falar aos recantos mais íntimos de nosso coração, nos agraciar, desafiar e mudar, e promover crescimento e maturidade espiritual genuínos.

* Resumo do livro: Thelma HALL. Lectio Divina: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2001.

I Congresso Nacional da ABP

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A Nova Jerusalém Feminina, representa pelas irmãs Aíla, Luziene e Márcia, participou do 1º Congresso Nacional da Animação Bíblica da Pastoral, realizado nos dias 08 à 11 de outubro deste ano.

Durante o congresso foram ministradas várias conferências com o objetivo de esclarecer aos participantes o que é a Animação Bíblica da Pastoral, bem como sua função na Igreja.

Além das conferências os participantes reuniram-se para refletir acerca dos temas abordados nas conferências, afim elaborar juntos a implantação da ABP nas diversas dioceses, paróquias e áreas pastorais.

O Congresso também favoreceu aos participantes, mediante a oração da Lectio Divina e celebração da Palavra, redescobrir a importância da Sagrada Escritura como fonte de espiritualidade e, consequentemente, de fecundidade da vida e da missão da Igreja.

Que a Nova Jerusalém possa contribuir para que toda a Igreja, através de suas mais diversas pastorais, façam da Palavra de Deus a fonte de sua vida e missão, "pois a palavra de Deus é viva e eficaz" (Hb 4,12a).

Encontro Bíblico

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O Instituto Religioso Nova Jerusalém juntamente com o CEBI promoverá no próximo dia 10/09 um encontro de estudo da Palavra de Deus. O encontro será realizado no Colégio Sagrado coração de Maria, av. Augusto Severo, 134 - Centro, das 08:00 às 16:00, terminado com a Celebração Eucarística.
O tema do encontro é: "Travessia: passo a passo, o caminho se faz" (Ex 15,22 - 18,27), e o lema: "Aproximais-vos do Senhor" (Ex 16,9).
O encontro será assossorado por Marco Antônio F. Tourin, coordenador geral da comunidade leiga Nova Jerusalém, em Belo Horizonte/MG.

Lançamento do Site da NJ

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A Nova Jerusalém, casa-mãe de Fortaleza, lançou neste mês o site do instituto. Com esse site, a Nova Jerusalém pretende alcançar a todos os cristãos, não apenas brasileiros, mas em todo o mundo. Sua finalidade é fazer conhecer seu carisma em suas diversas expressões.

Aqueles que se interessarem em conhecer o site, basta clicar no link abaixo e conferir:







 

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